Sexta-feira, primeiro de maio, dia do trabalho. Em tempos normais o fim de semana alongado seria uma grande oportunidade para paulistas, mineiros e fluminenses empacotarem a mochila e rumarem para a serra em busca de uma boa pernada na Trilha Transmantiqueira.
A Trilha é sonho antigo dos montanhistas brasileiros. Corre sobre uma das cordilheiras mais bonitas do país. Com 1200 quilômetros projetados e início na Grande São Paulo e final no Parque Estadual de Ibitipoca, a Transmantiqueira é a equivalente brasileira da Appalachian Trail americana.
Assim como trilha estadunidense, a Transmantiqueira pode ser percorrida em trechos e, assim, ser completada ao longo de muitos fins de semana e feriados longos, no que os gringos chamam de “section hiking”. Graças ao trabalho de mais de duas centenas de voluntários e profissionais da conservação, divididos em 21 grupos regionais, a trilha já tem 200 km sinalizados com suas características pegadas amarelas e pretas, decoradas pela pinha da araucária.
Graças a esse esforço cidadão, a Associação Trilha Transmantiqueira (ATT) pretendia completar o trabalho em dezembro e entregar a Trilha Transmantiqueira sinalizada de ponta a ponta em 2021.
Aí veio a COVID 19 e a ATT rapidamente se posicionou a favor das medidas de isolamento. Em seu comunicado oficial, lembrou que além de nós humanos, três espécies de primatas ameaçadas de extinção e já bastante dizimadas pelo recente surto de febre amarela, também são frequentadoras da Trilha Transmantiqueira. A fim de proteger a todos, humanos e fauna, a ATT se declarou a favor do fechamento da Trilha e mandou seus voluntários para casa.
Mas quem é voluntário, o é por amor e dedicação. O trabalho não parou. As reuniões de planejamento e troca de informações seguiram firmes. Por outro lado, um pequeno grupo de aguerridos membros da ATT empregou as horas vagas, antes a serviço da implementação da trilha, por uma atividade um pouco mais nerd. Sentaram-se à frente de seus computadores e não descansaram até o Dia do Trabalho, quando, em nome dos servidores das unidades de conservação conectadas pela Trilha e de muitos trabalhadores não remunerados – os voluntários da Trilha Transmantiqueira – regalaram ao Brasil um belo presente: o site da Trilha Transmantiqueira.
A gente sabe que os pés de todos estão coçando, mas a Pedra do Baú, a Serrra Fina, Marins-Itaguaré, Travessia da Serra Negra, Serra do Papagaio, Picu e mais um milhar de quilômetros da cordilheira mais bonita do Brasil podem esperar.
Enquanto isso, vá pesquisando o www.trilhatransmantiqueira.com.br e planeje sua primeira travessia pós coronavírus. Só não vale babar.
Diretor da Rede Brasileira de Trilhas, ex-chefe do Parque Nacional da Tijuca, diplomata de carreira e conselheiro de ((o))eco.
Pedro da Cunha e Menezes