As Trilhas de Longo Curso
As trilhas e a humanidade
As trilhas têm sido essenciais ao longo da história da humanidade, desempenhando diversos papéis desde os primeiros movimentos migratórios dos seres humanos primitivos da África para os outros continentes, até os dias atuais. Esses caminhos ancestrais serviram como rotas vitais para os primeiros humanos que deixaram a África, espalhando-se por todo o globo e povoando outros continentes. Ao longo do tempo, as trilhas evoluíram para se tornarem interligações cruciais entre cidades antigas, facilitando o comércio, a comunicação e a disseminação de conhecimento e cultura.
Além disso, as trilhas desempenharam um papel fundamental em grandes êxodos, como o do povo hebreu, que fugiu do Egito em busca da terra prometida, seguindo uma jornada épica através de desertos e montanhas.
Nos tempos de guerra, as trilhas se tornaram estratégicas, sendo utilizadas por líderes militares como Alexandre o Grande e Napoleão para movimentar suas tropas e garantir vantagem tática. Desde os vastos impérios até as batalhas em territórios desconhecidos, as trilhas forneceram os caminhos pelos quais os exércitos marcharam em busca da conquista e da vitória.
Na América do Sul, os Caminhos do Peabiru foram essenciais para a exploração e colonização da região, conectando diferentes povos indígenas e facilitando o comércio e a troca cultural. As trilhas utilizadas pelos bandeirantes, marcadas com cortes em árvores ou marcos em pedra esculpida, foram cruciais para a expansão territorial do Brasil, permitindo a exploração e a conquista de vastas áreas do continente sul-americano, contribuindo assim para a dimensão continental que o Brasil possui hoje.
Em suma, ao longo da história, as trilhas têm sido os caminhos que moldaram o curso da humanidade, testemunhando nossas migrações, conquistas e conflitos, e desempenhando um papel crucial na formação e no desenvolvimento das civilizações em todo o mundo.
Trilhas como recreação
Appalachian Trail
A Rede Trilhas
Como bem demonstram exemplos de outros países, projetos dessa envergadura dependem menos de dinheiro do que de significativa participação e apoio local, com governança compartilhada entre instituições e sociedade civil e forte sensação de pertencimento. Trilhas de Longo Curso tendem a dar certo quando são planejadas de baixo para cima pela sociedade, de maneira que o reconhecimento de seus sucessos não seja exclusivo de uma pessoa, instituição, governo ou de um seleto grupo que não tenha conexão com aqueles que manejaram e demarcaram o caminho com o custo do próprio suor.
Com o objetivo de obter benefícios de recreação, conservação e geração de renda semelhantes no Brasil, a REDE está trabalhando para fortalecer a trilhas em nosso país, mesclando o que há de mais bem sucedido nos modelos norte-americano e europeu.
No dia 19 de outubro de 2018, uma iniciativa que vinha sendo conduzida com paixão por um grupo de voluntários e servidores de unidades de conservação do Brasil inteiro finalmente virou finalmente uma política publica. Naquela data o Ministro do Meio Ambiente, o Ministro do Turismo e o Presidente do ICMBio assinaram a Portaria Conjunta MMA/MTur 407, que cria a REDE NACIONAL DE TRILHAS DE LONGO CURSO E CONECTIVIDADE (REDE TRILHAS). Cerca de um ano depois, em 16 de agosto de 2019, durante o ABETA Summit em Ilhabela, foi criada a Associação REDE BRASILEIRA DE TRILHAS (REDE), que é quem implementa e faz a gestão das trilhas de longo curso no Brasil. Nós somos um agrupamento de voluntários dedicado a implementar, manter e ajudar Governo no amadurecimento da política publica para as trilhas brasileiras.
A REDE é uma entidade civil, sem fins lucrativos, composta por trilhas nacionais, regionais e locais, que juntas formam seu conselho deliberativo. Cada uma das trilhas componentes da REDE tem governança, estratégia de implementação e manutenção próprias e são autônomas. A nível nacional a REDE é coordenada por uma diretoria que trata das agendas temáticas transversais de interesse para todas as trilhas do Brasil, tal como estabelecido em seu estatuto.
As trilhas de longo curso do Brasil estão sendo projetadas para serem bonitas e muito prazerosas, mas também estão sendo pensadas para gerar emprego e renda no seu entorno e, sobretudo, funcionar como ferramentas de conservação. Nesse caso, seu desenho é feito para que funcionem como corredores funcionais de fauna, impedindo a fragmentação total das unidades de conservação e permitindo o fluxo de espécies entre elas.
Sentido das sinalizações
Este sistema de sinalização precisa ser uniforme em uma linguagem universal para facilitar o reconhecimento dos trilheiros durante a navegação por exemplo em uma Trilha Nacional. No caso da RedeTrilhas, a PEGADA significa caminhar e a SETA a direção por onde prosseguir e se convencionou o sentido do uso das cores do fundo e da pegada. Quando a trilha estiver indo do sul para o norte, o fundo é preto e a pegada amarela e no sentido contrário, a trilha indo do norte para o sul as cores também são invertidas, nesse caso o fundo é amarelo e a pegada preta.
Este sistema de sinalização deve adotar uma linguagem universal para facilitar o reconhecimento dos trilheiros durante a navegação, especialmente em trilhas nacionais. Na RedeTrilhas, a pegada representa o ato de caminhar, enquanto a seta indica a direção a seguir. Convencionou-se também o uso de cores específicas para o fundo e a pegada. Quando a trilha segue do sul para o norte, o fundo é preto e a pegada é amarela. No sentido oposto, da trilha indo do norte para o sul, as cores são invertidas: o fundo é amarelo e a pegada é preta.
Sentido SUL x NORTE = fundo preto e pegada amarela;
Sentido NORTE x SUL = fundo amarelo e pegada preto.
Dado que a construção do nosso sistema é baseada em uma abordagem de baixo para cima, é crucial que cada trilha adote essa convenção. Isso garantirá que não ocorram confusões nas interconexões entre as trilhas, evitando transtornos para os trilheiros e preservando a integridade e eficácia de todo o sistema.
Exemplos:
Trilha no sentido Sul-Norte / Norte-Sul: Quando a trilha segue claramente nesse sentido, a abordagem é mais óbvia e geralmente não gera muitas dúvidas.
Trilha no sentido Oeste-Leste / Leste-Oeste: Nesse caso, é importante identificar se ponto inicial da trilha está mais ao sul que o seu ponto final para compreender o sentido das cores. No entanto, o mais importante é plotar em um mapa a trilha juntamente com suas trilhas anteriores e subsequentes para entender essas interconexões para tomar uma decisão assertiva. É fundamental lembrar que o objetivo final é estabelecer um sistema de trilhas que garanta uma navegação uniforme não apenas em uma trilha específica, mas em toda a RedeTrilhas.
Trilha circular fechada: Em uma trilha circular, o ponto mais ao norte coincide com o ponto mais ao sul. Se houver apenas um ponto de conexão com outra trilha, nesse caso, o sentido dessa trilha deve seguir o sentido da trilha anterior que se conecta nesse ponto inicial, mantendo a direção das cores do seu início ao fim.
Trilha circular aberta: Uma trilha circular aberta a trilha pode se conectar com no mínimo duas outras trilhas e nesse caso a avaliação das cores pode ser um pouco mais complexa. Quando a trilha circular aberta por exemplo estiver seguindo para o norte o fundo é preto e pegada amarela, mas quando a trilha se conectar
Prêmios da REDE
A Rede Brasileira de Trilhas e suas trilhas correlatas têm sido reconhecidas e premiadas por suas contribuições significativas para o turismo e o meio ambiente. Alguns dos prêmios recebidos incluem:
• 2016: Inclusão da Trilha Transcarioca no Passaporte Verde da ONU;
• 2016: Prêmio Mosquetão de Ouro 2016, conferido pela Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada;
• 2018: Prêmio Nacional de Turismo para a Rede Brasileira de Trilhas;
• 2019: Prêmio Nacional de Turismo para o Caminho de Cora Coralina;
• 2019: Escolha da Trilha Transcarioca como uma das 25 melhores do mundo;
• 2019: Inclusão da Trilha Transcarioca como exemplo e escolha de um dos diretores da rede como presidente do grupo de especialistas em Trilhas de Longo Curso da UICN;
• 2021: Prêmio Brasília: o novo olhar do turismo para o Caminhos do Planalto Central;
• 2021: Escolha da Rede Brasileira de Trilhas e de 4 de suas trilhas formadoras entre as melhores práticas de voluntariado em meio ambiente;
• 2021: Rede Brasileira de Trilhas foi premiada pela revista Go Outside na Categoria Montanhismo e Meio Ambiente com o prêmio Outsiders (GOOUTSIDE, 2021), conhecido como o Oscar dos esportes de aventura;
• 2023: Ganhadora do prêmio Prêmio Advancing Trails Awards na categoria Internacional da National Trails Council;
• 2023: Ganhadora do Prêmio Braztoa Sustentabilidade.
• 2023: Prêmio Nacional de Turismo para o seu diretor Pedro Menezes pelo seu trabalho em prol da REDE.
Hugo de Castro Pereira
Presidente da Rede Brasileira de Trilhas, o Coordenador Geral da Trilha Transmantiqueira
hugodcp@gmail.com
@hugodcp
2021