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Um convite para celebrar nossas trilhas de longo curso

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Nós trilheiros brasileiros sempre ouvimos que os europeus têm uma cultura de montanha mais antiga e forte que a nossa. Frequentemente encontramos europeus percorrendo (e curtindo muito!) nossas trilhas.

Fomos até a Suécia em agosto fazer uma trilha de longo curso e viemos aqui contar o que vimos por lá. Antes, um pouco de histórico que aprendemos e pesquisamos para nos educar:

Em 1885 um grupo de cientistas suecos criou a Associação Sueca de Turismo para facilitar o acesso às montanhas. Há uma palavra sueca para descrever o direito a fazer atividades ao ar livre em terras públicas ou privadas: allemansrätten. No início dos anos 1900 foi estabelecida na Suécia a Trilha do Rei - Kungsleden - com cerca de 467km.

Em 2005 foi criado um evento anual para celebrar a trilha do Rei: a Fjällräven Classic. São 110km acima do Círculo Polar Ártico, na primeira edição foram 152 participantes e este ano mais de 1.600 percorreram a trilha.

A trilha poder ser feita em qualquer época do ano, inclusive no inverno quando as atividades outdoor envolvem neve e observação da aurora boreal. Mas na semana da Fjällräven Classic é montada uma estrutura para fornecer comida aos participantes na partida e em pontos no caminho, o transporte de bagagens do ponto de partida até a chegada, a locação de equipamentos, tendas com paramédicos, banheiros em pontos estratégicos e até resgate de helicóptero (cobrado à parte).

Participam pessoas solo, casais, grupos de amigos, famílias com crianças, pessoas com cachorros (bem vindos desde que com coleira), idosos. Suecos e estrangeiros de todos os cantos. Cruzamos inclusive com pessoas com mobilidade reduzida e próteses nas pernas. É emocionante ver cada uma no seu ritmo: há quem percorra em dois dias, há quem leve até oito.

O cenário é maravilhoso, não chega a ficar completamente escuro nunca e o Sol dá voltas no céu, sempre deixando bons ângulos para observar e fotografar a paisagem - rios, vales, montanhas e geleiras - e a fauna - renas e águias. Grande parte da trilha passa por áreas encharcadas, mas há sempre confortáveis passarelas para evitar maiores danos ao ambiente e acidentes.

O final da trilha é no Parque Nacional de Abisko, onde é permitido o acampamento, o pernoite em cabanas, há estrutura de saunas e restaurantes e um excelente centro de visitantes que ensina sobre a importância do Ártico, que sofre 4x mais com o aquecimento global. Recomendamos dar uma esticada na estadia no parque e não retornar imediatamente após o final da trilha.

O conceito de parques nacionais foi criado nos EUA em 1872 com Yellowstone. A Suécia foi o primeiro país europeu a replicar o modelo em 1909, hoje tem 30 parques nacionais. O Brasil, apesar dos esforços do visionário André Rebouças na década de 1870, criou seu primeiro parque nacional em 1937, Itatiaia. Hoje temos 75 deles espalhados por nossos 7 biomas terrestres e marinho.

O conceito de trilhas de longo curso também é antigo e vem sendo replicado no mundo todo. No Brasil já temos mais de 70 trilhas de longo curso sinalizadas: mais de 10 mil km de trilhas em implementação, com diferentes extensões, graus de dificuldade, temos até até trilhas aquáticas.

Dado que no Brasil temos parques nacionais e trilhas de longo sinalizadas, será que existe uma oportunidade de replicar eventos de trilhas de longo curso que as celebrem e (por que não?) ofereçam comodidades pontuais aos participantes, sem tirar o glamour (ou a raiz?) de uma trilha em ambiente selvagem? Talvez haja aí uma grande oportunidade de trazer as pessoas a darem o primeiro passo no ambiente natural e a estimular que aqueles que conhecem e visitam algumas delas passem a visitar ainda mais.

Esperamos (sempre ativamente, fazendo nossa parte em conhecer e divulgar), que exemplos como esse possam ser seguidos e fortaleçam nossa educação ambiental, trazendo bem estar, desenvolvimento econômico e conservação para todos nós.

Autores: Dennis Hyde e Letícia Alves, do canal @entreparquesbr


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