Informações Gerais
Os atrativos naturais do PSB como as cachoeiras e as formações rochosas estão intimamente relacionados a usos religiosos. O uso recreativo nestes locais está restrito atualmente a poucos pontos como a cachoeira próxima à barragem devido à
poluição dos corpos d’água. A recreação hoje se concentra especialmente nos campos de
futebol ao longo do limite do Parque. Embora seja local marcado por importantes fatos
históricos, esse aspecto é pouco explorado para fins de visitação. O Parque também possui uma série de trilhas além das oficiais. Os usos são variados: visitação com fins
educacionais, usos religiosos, coleta de plantas, caça, pesca, ligação entre bairros, acesso a propriedades, entre outros.
As cachoeiras de Oxum e Nanã originárias do mesmo riacho, o Manoel Dendê, também
conhecido como Mané Dendê, localizam-se próximas à entrada do Parque São Bartolomeu.
O local antes utilizado para banhos e rituais, hoje é utilizado por um número menor de
pessoas, mas apenas para rituais, pois as águas encontram-se muito poluídas com esgoto.
Atualmente a cachoeira de Oxum deixou de existir, pois o lixo em sua cabeceira acabou
obstruindo a passagem de água. Apenas a cachoeira de Nanã continua com água, mas
carregada de esgoto. Apesar da degradação das cachoeiras e seu entorno, o local continua
sendo utilizado para rituais religiosos, com a presença de oferendas espalhadas pela área. A Cachoeira de Oxumaré, localizado a aproximadamente 500 m da Praça de Oxum, foi um
local muito frequentado por grupos de religião de matriz africana. Formavam-se filas
especialmente em dias de festejo como a de São Bartolomeu. Apesar da poluição
generalizada dos corpos d’água dentro do PSB, alguns moradores locais ainda acreditam
ser esta a única não poluída. Mas a questão da falta de segurança e a dificuldade de acesso
pelas condições atuais da trilha faz com que o local não seja mais visitado como no
passado. Foram observados poucos trabalhos religiosos nesta cachoeira, diferentemente da
cachoeira de Oxum e Nanã. Dois fatores podem estar contribuindo para isso, a diminuição
do acesso pelas condições atuais da trilha e a falta de segurança, e a limpeza deste ponto
feita por funcionário do Parque.
A cachoeira do Cobre, antes utilizado para rituais religiosos e lazer, atualmente encontra-se
quase sem uso. Pode-se observar lixo em sua cabeceira e a água visivelmente poluída. A
região da cabeceira desta cachoeira forma uma espécie de mirante natural com uma bela
vista na Praça de Oxumaré em meio à mata.
Na Aldeia de Caboclos ocorre a presença de uma formação rochosa singular. Diz-se que
recebe este nome, pois foi local onde antigamente os caboclos se encontravam. Em tempos
passados grupos de candomblé que vinham da região ou de outras localidades como Feira
de Santana passavam mais de uma semana “batendo candomblé” (Subúrbio News, 2009).
No local também são feitos cultos religiosos, com a presença de caqueiros, garrafas e
fragmentos de ossos de animais.
A cachoeira próxima à Barragem do Cobre não possui nome e se encontra junto ao campo
de futebol, chamado por algumas pessoas de campo de futebol da Embasa. Esta foi a única
cachoeira na qual foi avistada a presença de pessoas se banhando. A água não tem a
mesma aparência da cachoeira de Oxum, mas é provável que esteja contaminada, em grau
menor, devido às condições da água na barragem.
A barragem do Cobre é local de grande beleza cênica e com potencial para interpretação
ambiental. Há relatos da prática de pesca na barragem, e ao longo de sua margem existem
trilhas de acesso para este fim.
Assim como as cachoeiras, as pedras principalmente na região da Praça de Oxum são
consideradas sagradas. Citam-se alguns nomes dados às pedras: Ogum, São Bartolomeu,
Xangô, Oxumaré, Xangê, Omolu, Tempo, Iansã, Boiadeiro, e Cosme e Damião. Atualmente
várias das pedras encontram-se encobertas pela vegetação.
Os campos de futebol encontram-se espalhados junto aos limites do PSB. São campos em
terra batida, grama ou concreto. Junto ao estacionamento da entrada do Parque existe uma
quadra de futebol em concreto, e em alguns momentos foi observada a colocação e uso de
uma mesa de ping pong. O campo próximo à barragem, que não foi contemplado pelo
projeto de revitalização, possui gramado com falhas, traves enferrujadas e os jogadores
relatam a necessidade de limpeza da vegetação nas bordas do campo, assim como a
colocação de novas traves e telas para que a bola não caia em áreas alagadas. O restante
dos campos de futebol é em terra batida.
Histórico
Dado a proximidade entre a floresta da Mata Atlântica e o mangue, é possível inferir que
grupos humanos nômades e que viviam da caça e coleta de frutos e mariscos foram os
primeiros povos à ocuparem a região do PSB, por volta de 10.000 anos atrás. Conforme
estudos de Drummond (1997), por volta do ano 1100, os índios Tupi, povos seminômades
praticantes da agricultura de “coivara”15, ocuparam o litoral e assimilaram, mataram ou
expulsaram os povos de caçadores coletadores nômades, chamados pelos Tupis de
Tapuias (Amaral e Rosado, 2012). Drummond (1997) ressalta que, uma população indígena
razoavelmente grande ocupou o litoral brasileiro por um período longo, do ano 1100 a 1500,
com uma tecnologia relativamente impactante (agricultura de coivara), contribuindo, em
alguma medida, para transformar a paisagem que encontraram os portugueses ao
chegarem ao Brasil (Drummond, 1997).
Quando os portugueses chegaram na Baía de Todos os Santos, os indígenas que
habitavam o local era um grupo Tupi denominado Tupinambás. Os Tupinambás se
distinguiam dos demais grupos Tupi pela sua dedicação à festa, à guerra e pelos rituais de
canibalismo realizados com os inimigos capturados vivos (Ribeiro, 1995). Para Sampaio
(1998), os Tupinambás da Baía de Todos os Santos se destacavam também pela
manutenção de aldeias com milhares de habitantes, diferente de outros povos do interior
que mantinham aldeias con centenas de habitantes. Relatos históricos mencionam uma
aldeia de índios Tupinambá no local que os portugueses chamavam de Ribeira do Pirajá,
que compreende parte do atual bairro da Ribeira, na entrada da Enseada dos Tainheiros,
até o bairro de Pirajá (Sampaio, 1998). Logo esta região foi ocupada por engenhos, escolas
e igrejas jesuítas, os quais, com a consolidação do sistema de monocultura da cana de
açúcar, são os primeiros grandes indutores de alteração na paisagem da região do Parque
São Bartolomeu.
A utilização de escravos africanos foi a maneira encontrada pelos senhores de engenho
para atingir uma grande produção com baixo custo (Serpa, 1998). Diversas eram as formas
de represália dos negros contra este sistema de escravidão. Aqueles que conseguiam fugir,
se organizaram em grupos e formaram povoados chamados de Quilombos. Nestes
povoados, os quilombolas podiam exercer livremente a sua organização social, econômica e
religiosa. E também se organizavam para libertar outros escravos, e saquear fazendas e
cidades em busca de mantimentos e armas (Barbosa, 2003), como no Quilombo do Urubu.
Este Quilombo deve ter se formado em meados do século XVIII, e estava localizado nas
imediações da lagoa do Orubu, atual bairro Cajazeiras.
Estes quilombolas se utilizavam dos abundantes recursos da Floresta do Urubu, da qual não
se sabe exatamente a dimensão antiga, mas atualmente restam apenas os fragmentos de
Mata Atlântica localizados no interior do Parque São Bartolomeu e no entorno da Represa
do Cobre. Segundo Valdina, informante de Serpa (1998), na Floresta dos Urubus estes
quilombolas puderam, realmente, serem negros. E foram negros no seu jeito de se
organizar, na sua maneira de lutar, na sua forma de invocar seus orixás, seus ancestrais e
seus antepassados(as), sobretudo africanos. “Então daí foi consolidado um lugar sagrado a
partir da prática (Valdina, apud Serpa, 1998, p.68)”. Depois de algumas resistências, a
expedição comandada pelo general francês Labatut provocou uma chacina significativa no
quilombo dos Urubus.
Além deste conflito com os quilombolas, a região do PSB também foi palco de importantes
batalhas, desde invasões holandesas, até a batalha pela independência do Brasil contra os
portugueses.
Durante o restante do século XIX até o início do século XX a paisagem da região apresenta
pequenas alterações, sendo predominante as características e usos rurais. A não ser pela
urbanização que se formou ao longo da linha férrea, construída em 1860 e que ligava
Salvador à Alagoinhas (Wikipedia, 2012). Em 1929 o Governo do Estado da Bahia constrói a
Barragem do Cobre, a qual integrava o primeiro sistema de abastecimento de água de
Salvador (Azevedo, 1998). De acordo com Azevedo (1998), neste mesmo ano, o estado
adquire cerca de 4.6092.057 m2
de terrenos pertencentes à Cia. Progresso Industrial e ao
ex senador Frederico Costa. A maior parte desta área encontrava-se na vertente noroeste
da Barragem do Cobre, onde atualmente existe um grande fragmento de Mata Atlântica
(Azevedo, 1998).
A partir da década de 1940, a vinda de imigrantes aumenta o parcelamento do solo no
entorno do PSB trazendo grandes alterações na paisagem. Este processo se inicia com o
êxodo rural de moradores do interior que procuraram na capital melhores empregos e
condições de vida. Segundo Vasconcelos (2002), “entre as décadas de 1940 e de 1950 a
população de Salvador teve um acréscimo de 127.000 habitantes, dos quais 70% eram de
origem migratória. Vasconcelos (2002, p.319).” Também nos anos 1940, ocorreram as
primeiras invasões em Salvador: a de Corta-Braço, em 1947, e a de Alagados em 1948 e
cuja principal característica eram o predomínio de palafitas (Regis, 2007).
Nas décadas seguintes, este crescimento é intensificado com a criação do centro industrial
de Aratu em 1967 (SICM, 2012), e do Pólo Industrial de Camaçari em 1978 (COFICPOLO,
2012), bem como com a abertura da Av. Afrânio Peixoto (Suburbana) em 1971
(Vasconcelos, 1999). Após a construção da Av. Afrânio Peixoto (Av. Suburbana) houve um
aumento significativo das ocupações informais, que somando-se a total falta de atenção dos
órgãos públicos competentes, fizeram com que este local da cidade fosse esquecido e
deixado sua formação à espontaneidade das estratégias de ocupação do povo (Espinheira,
1998). A paisagem atual do PSB, bem como o seu valor cultural, histórico e religioso, é
resultado destes múltiplos usos por parte dos grupos humanos que ali habitaram e daqueles
que ainda habitam o seu interior e entorno.