Descrição da Trilha
A maioria dos países do mundo, pequenos ou grandes, onde as trilhas foram implementadas de forma sistêmica têm uma trilha nacional que, na medida do possível, conecta suas fronteiras mais longínquas. Esse é caso da Pacific Crest Trail nos Estados Unidos, da The Great Trail, no Canada, da Te Araroa, na Nova Zelândia e da Lebanon Mountain Trail, no Líbano, para citar apenas alguns exemplos.
No Brasil, essa trilha é a Oiapoque x Chuí, ou corredor litorâneo que, quando pronta, conectará os extremos da costa brasileira. Como se sabe, a Rede Brasileira de Trilhas está assentada sobre três pilares: (1) recreação, (2) geração de emprego e renda e (3) conservação. A trilha Oiapoque x Chuí foi concebida como uma ferramenta do pilar conservação. Sua ideia nasceu em 2016, em uma reunião no ICMBio, em Brasília, entre a Coordenação-Geral de Uso Público e Negócios e a Diretoria de Biodiversidade (Dibio), cujo objetivo era entender os principais corredores migratórios de fauna em nosso país e, a partir desse diagnóstico, traçar as rotas de trilhas de longo curso que melhor poderiam servir como instrumentos de conectividade entre fragmentos florestais, ajudando assim o fluxo genético.
Nesse encontro, debruçados sobre o mapa do Brasil os analistas ambientais da DiBio mostraram com fartura de dados que a faixa litorânea brasileira é também o maior e mais fragmentado corredor de fauna em nosso país, sobretudo a avifauna. Com essa conclusão, nasceu o projeto Trilha Oiapoque x Chuí.
Desde então, o planejamento está sendo feito para que a Trilha Oiapoque x Chui, seja constituída pela soma de várias rotas regionais em que o final de uma coincide com o início da seguinte. No total, a trilha do corredor litorâneo será composta por um cardápio variado de opções que poderão caber em férias de um mês, como a Trilha Transmantiqueira ou o Caminho das Araucárias (entre Canela e o Parque Nacional de São Joaquim), ou em um período de férias de duas semanas, tal como a Trilha Transcarioca (12 dias de caminhada), o Caminho da Ilha de Santa Catarina, a Transcapixaba, o Caminho da Baleia Franca e a Rota dos Faróis, ou ainda em um período inferior a uma semana, como a Rota Darwin, a Rota Guarumã, os Caminhos da Serra do Mar (6 dias) ou as já consolidadas voltas da Juatinga e da Ilha Grande. Cada trilha regional que compõe a Oiapoque x Chuí tem sua própria identidade, governança e estratégia de geração de emprego e renda. Juntas pelo fio condutor das pegadas amarelas e pretas que lhes dão um sentimento de continuidade, elas formam a mais longa trilha do Brasil e uma das maiores do mundo.
Muitos percorrerão apenas umas ou alguns desses elos fundamentais do Corredor Litorâneo. A estratégia de sua implementação, contudo, foi pensada de tal modo a permitir ao trilheiro separar a cada ano diferentes períodos de suas férias, completando em cada uma delas uma trilha regional diferente, com o objetivo final de, ao longo do tempo, completar em sua totalidade a Trilha Nacional Oiapoque x Chuí, mas tendo objetivos intermediários claros que lhe dão um sentimento de missão cumprida a cada caminhada.
A estratégia também permite que a Trilha Oiapoque x Chuí seja completada de forma que os diferentes trechos podem ser percorridos de maneira aleatória sem uma ordem estrita, mas respondendo à disponibilidade de tempo e de oportunidades de cada trilheiro. A maioria das pessoas que hoje completam as grandes trilhas de longo curso do mundo, a exemplo da Appalachian Trail, o fazem dessa forma. Esses caminhantes são conhecidos como section hikers. Assim, o trilheiro pode completar as trilhas mais longas que compõem a Oiapoque x Chui, como a Transmantiqueira e a Transcapixaba, quando tiverem um mês de férias. Quando só puderem tirar duas semanas completarão o Caminho da Ilha de Santa Catarina, o Caminho das Araucárias ou a Transcarioca. Nos feriados longos poderão fazer os Caminhos da Serra da Mar, a Rota Guarumã e a Volta da Juatinga e assim por diante.
Mas a Oiapoque x Chuí não é apenas grande. Ela é também a trilha mais variada do Brasil: liga quatro dos cinco biomas do Brasil: Pampas, Caatinga, Amazônia e Mata Atlântica, cuja Reserva da Biosfera, parceira da Rede, é conectada pelo corredor litorâneo desde o Rio Grande Sul até o Ceará. Em seu percurso a Trilha revive e percorre antigos caminhos da história de nosso país como a Rota dos Tropeiros, o Caminho Colonial do Itupava e a Trilha do Ouro da Serra da Bocaina.
O Corredor Litorâneo tampouco é só estritamente litorâneo. Em alguns lugares como na Rota dos Faróis, no Lagamar Paulista, na Costa dos Corais ou na Rota do Cacau, a trilha encosta na praia e deixa o trilheiro sentir a brisa salgada do Atlântico; em outros trechos ela sobe essa bela cordilheira litorânea, que não podia ter outro nome que não fosse Serra do Mar. Nessas cabritadas ela leva o trilheiro a alguns dos cumes mais altos do Brasil como as Agulhas Negras, o Pico do Paraná, a Pedra do Sino e o Pico da Bandeira. No Amapá e na Trilha Amazônia Atlântica ela descortina os mais belos mangues de nosso país e seus milhares de guaribas e guarás. Na Rota das Emoções ela varia entre as dunas e lagos dos Lençóis Maranhenses e na Caatinga ela é decorada pelas pinturas rupestres da Travessia da Apa do Ibiapaba, entre os Parque Nacionais de Ubajara e Sete Cidades.
A exemplo do Sentiero d´Italia e da Florida Trail, em alguns lugares a nossa trilha maior se bifurca, a exemplo do trecho que vai da divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, dando a oportunidade do trilheiro de escolher entre sol e praia por um caminho e cânions, peraus e a neve do Parque Nacional de São Joaquim caso opte pela serra.
Também há na Oiapoque x Chuí a possibilidade de vivenciar a experiência de trilhar em diferentes modais: o cavalo, a exemplo dos campos da Serra Gaúcha e Catarinense, a bicicleta já no trecho mais meridional, na travessia da Praia do Cassino (e depois em muitos outros trechos), do Caiaque no Lagamar, na Amazônia Atlântica e no Marajó e até, para os mais intrépidos, o windsurf na Rota das Emoções.
Em sua jornada o trilheiro passará por Parques, Florestas, Terras Indígenas e Quilombolas, Patrimônios da Humanidade e Reservas da Biosfera. Vai poder caminhar, pedalar e remar. Vai ouvir músicas variadas, degustar culinárias deliciosamente diferentes, ouvir sotaques diversos e desfrutar as paisagens mais deslumbrantes que o Brasil tem a oferecer.
Oiapoque x Chuí, partiu¿
REDE BRASILEIRA DE TRILHAS
PEGADAS AMARELAS E PRETAS
CONECTANDO AS UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO DO BRASIL