Para o condutor Rudson SIlva, fazer uma trilha significava apenas “caminhar no mato, chegar no topo mais alto e tirar uma foto”.
“Hoje, eu percebo que trilha é você saber que nunca está sozinho”, avisa Rudson.
A 165 km de João Pessoa, na Paraíba, o ‘Caminhos das Ararunas’ é daquelas experiências que sempre têm um atrativo para a gente ver naquele mundo pedra.
Trilha da Pedra do Forno, em Araruna (foto: Eduardo Vessoni)
Com cerca de 138 km de extensão, a trilha mais longa do Nordeste tem cânion com cachoeira, pinturas rupestres que se escondem em grutas e turismo de base comunitária em áreas rurais isoladas que recebem a gente como se fôssemos os únicos por ali.
É turismo de experiências, mas também de superação de limites e de conquistas.
Entre as dificuldades da trilha, Rudson aponta a seca no interior paraibano e a escassez de pontos de apoio.
Por outro lado, foi na mesma rota que esse condutor teve uma das suas “maiores experiências da vida”, quando presenciou uma chuva de meteoros, no Cânion da Serra Verde, em Araruna.
Trilha mais longa do Nordeste
Embora não seja nenhuma novidade na região, o caminho surgiu com a ideia de conectar todas as rotas já existentes em Araruna para então fazer uma só.
A trilha mais longa do Nordeste pode ser feita por partes, como foi o caso do Viagem em Pauta, que fez os trechos 1, 3 e 4, ou de forma completa, que costuma levar seis dias.
Araruna, a 165 km de João Pessoa (foto: Eduardo Vessoni)
Assim como em outras trilhas de longa distância, os insistentes que completarem o trajeto são certificados pelo Fórum do Turismo do Curimataú, segundo Rudson, que já fez o caminho completo três vezes e vai “fazer a quarta vez, isso é uma certeza”.
“É uma experiência que eu indico para qualquer pessoa que quer ter isso como refúgio. Você vai ver o mundo das trilhas com outro olhar, o mundo para o interior”, descreve.
Apesar da extensão, o caminhante é sempre surpreendido por atrações que, de longe, lembram a Paraíba das praias lindas e das piscinas naturais, como os passeios de quadriciclo na Mata do Seró e a impactante pedreira grafitada por um artista local, no município vizinho de Santa Inês.
Sem falar nos 15 sítios arqueológicos com pinturas rupestres que datam de 10 a 12 mil anos, ao longo da travessia entre as cidades de Araruna e Cuité.
“A quantidade e o tipo de sítios mostram que Curimataú e Seridó estiveram ligadas com outras regiões importantes do ponto de vista arqueológico, como a Serra da Capivara, no Piauí, e a Pedra de Ingá, na Paraíba”, diz João Rosa, que já encontrou no Piauí um painel com antigas gravuras, iguais às encontradas em Ingá, a 100 km da capital paraibana.
Entre os trabalhos encontrados ao longo de um dos trechos que o Viagem em Pauta conheceu, esse arqueólogo destaca os da Tradição Agreste, por conta dos desenhos em forma de “bonecões muito grandes feitos com o próprio dedo”, uma das características dessa tradição de tons avermelhados mais vivos, como as encontradas em Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Caminho das pedras
Embora seja autoguiada, essa trilha de longo percurso exige planejamento e atenção.
Para esta reportagem, o Viagem em Pauta percorreu, parcialmente, três trechos do ‘Caminhos das Ararunas’.
Em outubro de 2022, a reportagem encontrou sinalizações apagadas ou inexistentes em alguns trechos, sobretudo na região do Parque Estadual da Pedra da Boca, onde certas bifurcações podem confundir quem não conhece a rota.
Outro ponto negativo das trilhas é a total falta de placas informativas nos atrativos.
No meu caso, por exemplo, percorri a Trilha da Pedra do Forno (trecho 3) rumo a pequenas grutas com painéis ao ar livre com pinturas rupestres, possivelmente, da Tradição Agreste.
Mas só fiquei sabendo dos detalhes porque tive o privilégio de ser acompanhado por um arqueólogo que contextualizou o que se via. Caso contrário, para um caminhante sozinho, seria apenas um amontoado de manchas avermelhadas, naturalmente desgastadas, que leigos nem sempre têm condições de identificar, muito menos interpretar.
Na dúvida, contrate um guia especializado em trilhas de longa distância e que conheça a região.
fonte: https://viagemempauta.com.br/2023/03/29/como-e-a-trilha-mais-longa-do-nordeste/