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Caminho Saint Hilaire: um resgate da história sob olhar de um naturalista

Caminho Saint Hilaire: um resgate da história sob olhar de um naturalista

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A trilha de longo curso une natureza, história e cultura em percurso de 170 milhas no interior do estado de Minas Gerais,

que refaz caminhos do naturalista francês.

 

Caminhantes no trecho do Caminho de Saint Hilaire. Foto: Júlio César de Paula

O Caminho Saint Hilaire (CaSHi) é uma trilha de longo curso voltada para caminhantes e ciclistas com cerca de 170 km entre Conceição do Mato Dentro, Serro e Diamantina. Estes municípios, no coração de Minas Gerais, na Serra do Espinhaço Meridional, possuem relevância tanto em patrimônio natural, englobando geodiversidade, biodiversidade, quanto em patrimônio histórico, com igrejas e casarios do período colonial, manifestações culturais, folclóricas, ofícios e modos de fazer. Neste contexto, o CaSHi foi idealizado para estimular a conservação ambiental e valorização do patrimônio cultural, as tradições e os costumes do meio de vida local, assim como o legado de informações do naturalista Auguste de Saint-Hilaire.

O caminho leva o nome desse naturalista francês, que esteve no Brasil entre 1816 e 1822, descreveu inúmeras espécies de plantas e coletou milhares de outras no Brasil, que podem ser encontradas nos três volumes da Flora Brasiliae Meridionalis. O naturalista deixou um legado na forma de inúmeras obras, especialmente conhecidas por seus relatos de viagem, feitos a partir de seus diários de campo. Como exemplo, citamos Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais; Viagem pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do Brasil; Quadro Geográfico da Vegetação Primitiva na Província de Minas Gerais; Plantas Usuais dos Brasileiros, dentre outras. Os dois primeiros volumes contêm narrativas da região e serviram como base na demarcação do Caminho Saint Hilaire.

A Logomarca do Caminho Saint Hilaire traz a folha do Pau-Santo,

espécie descrita por Saint-Hilaire na região, simbolização o território do CaSHi,

com ondulações em referência ao relevo montanhoso do Capão

da Maravilha, Pedra Lisa e Pedra Redonda. A marca também apresenta referências dos dois

maiores marcos geográficos da região: o Pico do Itambé e a Cachoeira do Tabuleiro. A parte longitudinal central da folha remete ao CaSHi.

O trabalho e esforço para a concretização desta trilha de longo curso caminhou simultaneamente com a elaboração de um livro intitulado Minas Gerais e Orléans: olhares cruzados no Caminho Saint Hilaire, que busca explicar a idealização do Caminho Saint Hilaire e toda sua riqueza natural, cultural e potencialidade turística. A obra foi organizada pelo presidente do Instituto Auguste de Saint-Hilaire, Luciano Amador dos Santos Jr. e contou com a participação de autores ligados à Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e da sociedade civil. A obra apresenta cartas de apoio das prefeituras envolvidas e foi financiada pela Embaixada da França no Brasil, na figura do Adido de Cooperação e Ação Cultural do estado de Minas Gerais à época, Sr. Philippe Makany. O livro está disponível para download na página do Caminho Saint Hilaire (acesse aqui).

A obra Minas Gerais e Orléans: olhares cruzados no Caminho Saint Hilaire foi dividida em 4 partes e 9 capítulos. A Parte I, no primeiro capítulo, traz informações sobre a vida de Saint-Hilaire na França: sua origem, vocação e a carreira como botânico antes de sua vinda ao Brasil, em 1816. No segundo capítulo, apresentamos a concepção do Caminho Saint Hilaire e as características do território em que está inserido. Na Parte II, dividida em 3 capítulos, buscamos reverberar a importância paisagística em uma Reserva da Biosfera, a geodiversidade e a biodiversidade. Invocamos a paisagem, as plantas e flores encontradas na região, a relevância ecológica mundial dos Campos Rupestres, bem como a “serventia” de inúmeras dessas plantas para o ser humano, seja na culinária, seja na medicina. A Parte III conta com capítulos que buscam descrever a riqueza das construções arquitetônicas pelo caminho, nas cidades e povoados. Pontuamos o modo de fazer os queijos – patrimônio dos mineiros – e o processo alquímico da fabricação de vinhos, no passado e no presente. Outro destaque é o encontro entre duas personagens femininas: Chica da Silva recebe Joana d’Arc: memórias que se cruzam no Caminho Saint Hilaire. A Parte IV remete à concepção do projeto Caminho Saint Hilaire, sua marca, identidade, propostas de sinalização da trilha com intuito de ofertar aos visitantes um pouco de toda a riqueza natural e cultural desta região, uma volta ao passado e a possibilidade de desenvolvimento para as comunidades locais. Finalizamos o volume com uma “viagem” pelo Caminho pelo olhar de um viajante fascinado pelas suas belezas naturais, históricas e do seu povo.

Atualmente o CaSHi possui sua gestão e planejamento realizada pelo Instituto Auguste de Saint-Hilaire e apresenta uma diretoria composta por representantes dos municípios de Diamantina, Serro e Conceição do Mato Dentro. O caminho é membro fundador da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso e encontra-se em etapa final de mapeamento com apoio de profissionais e de instituições como o Instituto Estadual de Florestas (IEF). A próxima etapa será a sinalização da trilha. Dos 170 quilômetros do CaSHi, menos de 12 km se darão por acessos em rodovias asfaltadas, sendo o restante do caminho em trilhas rústicas e estradas vicinais.

O percurso também pode ser feito de bicicleta. Foto: Luciano Amador dos Santos Jr.

Cabe ressaltar como proposta do projeto que o trecho entre Serro e Diamantina, atual LMG-735, está em processo alteração de nome para ‘Via Saint-Hilaire’ na Assembleia Legislativa do estado de Minas Gerais, com intuito de fortalecer a identidade territorial da trilha. Além disso, há uma proposta para criação de uma unidade de conservação: o Parque Natural Auguste Saint-Hilaire, nas proximidades do povoado do Vau, no município de Diamantina.

A proposta para o turismo vincula-se ao desenvolvimento regional por meio dos princípios do turismo criativo e de base comunitária, uma vez que o caminho passa por 12 pequenas localidades pertencentes aos três municípios. Neste sentido, almeja-se que características locais sejam respeitadas e ‘experienciadas’ pelas pessoas, promovendo a autoestima dos membros comunitários ao fortalecer o sentimento de pertencimento pelo território, e ajudando a impulsionar o desenvolvimento socioeconômico regional pelo turismo responsável.

O CaSHi está situado nos contextos: histórico da Estrada Real; territorial do Mosaico Alto Jequitinhonha Serra do Cabral e do Circuito Turísticos dos Diamantes; e ambiental da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, em diálogo com as Trilhas Transespinhaço e Verde da Maria Fumaça; e conta com três chancelas da UNESCO. O caminho é um espaço propício para novas formas de viajar e, ao mesmo tempo, constitui um convite a um novo perfil de turista, atento e sensível aos modos de vida dos lugares, suas paisagens naturais e culturais, consciente dos impactos de seu deslocamento e compromissado com a realidade visitada.

Em essência, um caminho de experiências únicas no mundo, dedicado à transformação humanística e científica à luz da valorização e da conservação da natureza, da preservação dos patrimônios materiais e imateriais e, do desenvolvimento dos povos e comunidades que dão sentido histórico, sociocultural, material e simbólico a esses incríveis lugares de vida que o integram.

Assista a live da Rede Brasileira de Trilhas em parceria com ((o))eco sobre os Caminhos de Saint Hilaire:

             


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